terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tudo bem, eu sou cliança

Estou descobrindo os desafios de trabalhar em casa (as vantagens eu conheci rapidinho: não enfrentar trânsito, não perder tempo no vai e vem, sem estresse, sem adrenalina para voltar a tempo de pegar na escola, sem roupa formal ou sapato desconfortável, almoço saudável, etc). Uma delas é a falta de limites entre o espaço do trabalho e do brincar. Pedro Luis acha que o escritório da mamãe tem um monte de "brinquedinhos" em cima da mesa, que estão só esperando para serem descobertos.
Estes dias, enquanto eu fui ao banheiro, ele subiu na minha cadeira e pegou um pequeno pote de cerâmica. Caiu. Quebrou a ponta. Ele colocou no lugar bem quieto e saiu de fininho. Quando vi, perguntei: Pedro, foi você que quebrou a tampa deste potinho? e ele me diz: - Sim, mamãe, fui eu. mas tudo bem, né, porque eu sou cliança!
Difícil manter a seriedade nestas horas. O riso torna-se irresistível, cedo à doçura e, quando possível, paro tudo para brincar um pouco com ele.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Choco, uma homenagem

A primeira grande amiga da vida do meu filho foi a Choco. Desde que ele chegou da maternidade e ela cheirou seus pezinhos. Ali começou uma devoção da Choco com ele e um carinho tão lindo e tão inocente dele com ela, que não dá para contar em palavras. Quem já viu alguma cena dos dois sabe do que estou falando.

A Choco, com suas enormes pernas (a gente dizia que ela era a Anna Hickmann dos cachorros) ficava abaixandinha, engatinhando em quatro patas, quando Pedro era engatinhante, para ficar da altura dele. Ele, por sua vez, dava remédio, água e comida na boca dela nestes últimos dias, e já deu muitas bananas, biscoitos e até leves pancadas com seu martelo de plástico, que ela adorava. Cuidaram um do outro durante todo o tempo em que estiveram juntos aqui nesta vida. Brincaram muito, aqui no nosso quintal e lá na primeira casa.

Na vila em que morávamos, eu e Pedro saíamos duas vezes por dia para passear com a Choco. Eu prendia a guia no carrinho de bebê e lá íamos os três. Choco, muito boazinha, ia cuidando dele, sempre muito calma, mas não gostava que viessem passar a mão no bebê, sentava embaixo do carrinho enquanto eu batia papo com minha vizinha, e ficava apenas olhando. Sempre. Com aquela cara de Choco, semi dormindo, semi acordada, vigiando ele. Eram cumplices do cadeirão, ele discretamente jogava no chão o que não queria, ela vinha sutil (o tanto quanto é possível ser sutil para um cachorro de mais de trinta quilos) e rapidinho dava no pé, eles achavam que eu não notava. Eu morria de rir. Um dia eu perguntei para o Pedro o que a gente ia fazer hoje, achando que ele ia dizer “passear” ou algo assim, e ele disse: dar banho na Choco! Simplesmente assim, todo apaixonado, amava dar banho com Lufe na pobre (a Choco detestava água, mas aceitava o banho como uma pena que tem que ser cumprida para morar aqui com a gente.

Mas não pense que a Choco era só boazinha, ela não gostava de receber ordens, na aula de adestramento ficava bufando, fora que quebrou alguns lindos vasos de planta, puxou roupas do varal, e cavucava terra e tudo mais que encontrasse pela frente. Até um buraco no muro de tijolos a Choco cavou, com toda a energia de um filhote. Era obcecada por papelão, comia todos sempre que tinha oportunidade. Talvez porque durante seus primeiros meses, morou em uma caixa de papelão. E também amava pinhas, no sitio, se acabava em seu reino das pinhas. Tenho fotos. Lindas. Além de tudo, a Choco era linda, e este era apenas o começo de toda a sua lista de qualidades. Vai nos fazer muita falta, nossa querida amiga.

Este é o último vídeo que fiz dos dois juntos, no inicio de fevereiro. É uma delicia ter estes arquivos e poder assistir, rir e guardar tantas boas memórias destes quase cinco anos em que vivemos com a Choco e dos quase três em que vimos Pedro, o bebezinho, crescendo com o cachorrão. Ela se derretia por ele, e a gente por ela. Vamos encarar, vamos tentar, pelo menos, fazer como o Pedro. Ele continua feliz, brincando, rindo, totalmente vivendo o presente. Não está pensando no passado e nem lamentando nada, está apenas aceitando que a Choco foi, e tudo bem, amamos muito ela, agora vamos brincar. Momento presente. Aqui, agora. É isso que eu quero aprender. É difícil, mas não é impossível, não é mesmo?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011


A chegada do irmãozinho

Estamos chegando no final da gravidez e em plena reforma dos banheiros da casa. A obra está super atrasada, vários imprevistos, stress e tudo aquilo que faz a pessoa se arrepender e prometer não passar por isso nunca mais. Então, por nossa conta, contratamos um ajudante de pedreiro para agilizar o processo aqui. Eis que no sábado o cara chega pela primeira vez. Estávamos eu e Pedro na cozinha, quando toca a campainha. Como sempre, Pedro pergunta:
- Quem cêgo mamãe?
- O José Nildo, filho.
- O zuzé? (José) O Zuzé chegou? (pulos e gritos). AHHH, o Zuzé chegou (sai correndo em direção a porta). O Zuzé da baiiga da mamãe cêgo!!! Vamo lá, vamo lá!
Foi aí que eu percebi que ele estava entendendo que era o nosso José, o irmãozinho, que havia chegado. Aquele que todos falam que "está chegando" que "vai chegar logo" , tocou a campainha e foi chegando. Tive que decepcioná-lo:
- Não, Pedro, nao é o nosso José. É outro José, o José Nildo, que vem trabalhar aqui em casa. O nome dele é Zenildo.
- Oto Zuzé?
- Isso, outro José.
Expliquei e ele compreendeu mais facilmente quando viu o ajudante de pedreiro entrando pelo portão, que provavelmente em nada se parecia com o nenê da barriga que ele imaginou ou pelo menos com o que nós descrevemos que será (pequenininho, um bebê que mama e dorme, etc).
Fiquei rindo sozinha, emocionada, por perceber que na visão do Pedro a chegada do irmão poderia ser simples assim.